Feminismo Negro na Adolescência

Sementes Coletiva
2 min readAug 25, 2020

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O Feminismo negro é pouco discutido dentro da pauta feminista– certamente por partir de um grupo, historicamente, oprimido — então para quem é esse feminismo?

A situação da mulher negra sempre teve em contraste com a situação da mulher branca. Enquanto, naquela época, essa lutava pelo direito ao voto e ao trabalho, aquela lutava para ser considerada humana.

Em 1980, o feminismo negro começou a ganhar forças no Brasil, contudo é importante pensarmos que antes mesmo de relatos, outras mulheres negras já tinham pensado no “ser mulher” imposta pelo feminismo. Segundo a socióloga Núbia Moreira: “A partir do III Encontro Feminista Latino-Americano ocorrido em Bertioga no ano de 1985, se estabelece a relação das mulheres negras com o movimento feminista, com o intuito de adquirir visibilidade política no campo feminista. A partir daí, surgem os primeiros coletivos de mulheres negras […] a partir do encontro ocorrido em Bertioga, se consolida entre as mulheres negras um discurso feminista, uma vez que em décadas anteriores havia uma rejeição por parte de algumas mulheres negras em aceitar a identidade feminista.”.

Apesar de o gênero nos unir, há outras particularidades que nos separam. À medida que feministas brancas não reconhecerem seus privilégios e perceber que existem várias mulheres nesse ser mulher, o movimento regressará, reproduzindo os velhos e conhecidos raciocínios lógicos de opressão. O que dificulta a ingressão de meninas negras no feminismo, por justamente não encontrarem a identidade que buscam e precisam para se aceitarem enquanto negras, denunciando o racismo existente no movimento feminista.

A interseccionalidade, apesar de já ser usada por feministas negras, só foi oficialmente posta em discurso em 1989 por Kimberlé Crenshaw, que diz: “A interseccionalidade é uma conceituação do problema que busca capturar as consequências estruturais e dinâmicas da interação entre dois ou mais eixos de subordinação.” Ou seja, pensar em interseccionalidade é saber que não se deve priorizar uma opressão sobre outra opressão, é preciso acabar com a estrutura. Isso dialoga com pautas feministas que não enxergam as mulheres negras como mulheres — no geral, ambas são oprimidas por serem mulheres, mas as mulheres negras são duas vezes mais discriminadas pela sua raça e classe.

A importância do feminismo negro na adolescência para além da busca por empoderamento, referências de grandes pensadoras negras, é garantir em um futuro próximo nossos lugares nos espaços de poder. Dessa forma é essencial que tenhamos visibilidade no campo feminista, para que meninas negras cresçam cientes de que sim, somos mulheres, e devemos ocupar debates políticos. Leiam mulheres negras.

Acabar com universalidade é entender outras possibilidades de ser mulher.

Referência: O livro de Djamila Ribeiro “Quem tem medo do Feminismo negro?”.

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